MUSEU HISTÓRICO

29/03/2024 01:29:59
https://www.lucasdorioverde.mt.gov.br/site/museu-noticias?cod=10860

Série Piavoré: Começa a declinar a produção da borracha no Mato Grosso

Depois da revolta armada de 1916, as dificuldades aumentaram e os seringueiros começaram a abandonar os seringais
Por Ascom Prefeitura/Oliveira Neto
10/11/2022 07:54

Barracão dos seringais mato-grossenses(Foto: IBGE)


Ajustar tamanho da fonte:

O conflito de 1916 foi causado pela disputa entre os dois partidos políticos que se alternavam no poder no Mato Grosso. O Partido Republicano Conservador (PRC), comandado pelo senador Antônio Azeredo, havia elegido o general Caetano Manoel de Farias Albuquerque como governador do Estado. Devido a uma briga pelo funcionamento de um bonde, em Cuiabá, o governador discordou da posição de Azeredo e resolveu deixar o cargo. Foi quando o chefão do Partido Republicano Mato-grossense (PRMG), Pedro Celestino, resolveu apoiar o general Caetano e o convenceu de permanecer no poder. Com isso, houve uma ruptura política entre os dois grupos e culminou no movimento armado em todo o estado e muito sangue derramado, terminando com uma intervenção federal.

O cenário político estava completamente instável. A força econômica de Mato Grosso era a borracha, porém a produção estava em declínio. Em 1915, a borracha brasileira já havia perdido espaço no mercado internacional. Desde 1910, a borracha produzida na Ásia, em colônias do Reino Unido e Países Baixos já vinha superando a produção brasileira, tanto em qualidade quanto no preço. Apesar disso, os coronéis ainda acreditavam que o produto iria continuar competindo no mercado internacional. 

Durante o conflito armado, os coronéis, que sempre defenderam o Partido Republicano Conservador, se posicionaram em favor do senador Azeredo e perderam a guerra em todas as regiões do estado. As consequências foram inevitáveis. Com receio de um novo levante, as forças militares tomaram todas as armas e munições dos coronéis durante o conflito, e os seringueiros passaram a andar desarmados nas matas, se tornando presas fáceis dos índios que costumavam matá-los e roubavam tudo que haviam em suas casas. 

Os coronéis Francisco Lucas de Barros e Alexandre Magno Addôr, os dois maiores produtores de borracha do Rio Verde e região, ainda sofreram uma repressão significativa  do Estado quando tentaram comprar uma carga de rifles e munições para voltar a garantir a segurança nos seringais. 

Era uma tarde de quinta-feira, 31 de maio de 1917, quando um pelotão de 20 homens da cavalaria do Estado, comandado pelo tenente Carneiro e o Alferes Corrêa Lima, saía para atender a uma denúncia feita pelo tenente coronel Antonio Manoel Moreira ao interventor do Estado. As informações eram sobre um carregamento de armas, munições e outras mercadorias sendo conduzidas em uma canoa de propriedade da Casa Alex.Addôr para sua filial, em Rosário Oeste. A informação era que os coronéis Alexandre Magno e Francisco Lucas tinham a intenção de iniciar uma nova revolta no norte do estado. 

O assunto causou o maior alvoroço a ponto de o coronel da força militar, Erasmo de Lima, e o delegado da capital se dirigirem às margens do Rio Cuiabá, no local conhecido como Volta Acima da Capella. Lá foi feita a apreensão da canoa, onde haviam 62 carabinas Winchester e 10 mil munições. Pelo respeito que existia das autoridades com o coronel Alexandre Magno, ele  foi convidado a se dirigir à Delegacia para fazer a entrega das armas de forma oficial. 

Alexandre Mango defendeu-se junto às autoridades e reiterou: “Só farei a entrega das armas diante da consumação da violência que está sendo praticada contra minha propriedade. Pois tendo sido todo meu pessoal desarmado por ocasião do movimento de setembro do ano passado, eu precisava remeter o armamento que consegui obter em praça para armá-lo novamente, visto como é sabido que de outra forma não podem os seringueiros permanecer nas matas, onde a cada passo são atacados pelos índios”, disse o coronel em depoimento.

O coronel Alexandre Magno repudiou ainda a ação do interventor federal, pelo fato de tomar tal medida punitiva, sendo que foram apresentadas notas de todas as armas, além de ser do conhecimento de todos que outras empresas também já haviam comprado armamento para seus seringueiros e nenhuma ação truculenta havia sido realizada. 

O certo é que, a partir de 1917, os seringais do Norte de Mato Grosso começaram a ser abandonados e barracões sendo esvaziados. Somente permaneceram nos seringais aqueles que, além da exploração da seringa, também praticavam a agricultura ou criação de animais, como foi o caso de Francisco Lucas de Barros, que ficou no Piavoré até os anos de 1930, quando definitivamente retornou para Cuiabá e se dedicou exclusivamente ao seu comércio localizado à Rua Tenente Albuquereque, nº 1, no bairro do Porto. 

Avalie esta notícia: