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https://www.lucasdorioverde.mt.gov.br/site/museu-noticias?cod=10804
Engenho de cana no século XIX.(Foto: Wikipédia)
A Lei Áurea (3.353/1888), pela qual obrigava a libertação de escravos, já havia sido promulgada, mesmo assim, no interior das matas e nos engenhos, pouco se observava a legalidade.
Uma história que comprova essa ação foi registrada em 28 de fevereiro de 1918, em Cuiabá. O trabalhador Eduardo Capistrano da Rosa procurou a Justiça em busca de seus direitos. Ele havia feito um contrato de trabalho com Francisco Lucas de Barros. O contrato seria para garantir a permanência do trabalhador em suas funções, mas, na verdade, era um tipo de autorização de posse de propriedade assinado pelo trabalhador, na maioria das vezes sem nem saber o que estava assinando.
O Coronel Francisco Lucas vendeu a posse de Eduardo Capistrano ao Major Eduardo Soares de Carvalho, proprietário da Usina de Açúcar São Miguel, em Cuiabá. Agora, como proprietário do trabalhador, o Major Eduardo lhe enviou a seguinte carta*:
“São Miguel, 19 de fevereiro de 1918.
Ilmo, Sr. Eduardo Capistrano da Roza.
Tendo o Sr. Francisco Lucas de Barros me transferido o seu contracto com elle e como no contracto Vmce. está em falta da 1ª cláusula em que Vmc. devia ter dado por conta do seu débito a metade do total, é o motivo porque de rijo-lhe esta para convidar-lhe a dar uma chegada até aqui a nossa caza para acertar qualquer cousa a respeito.
Actualmente, estou fazendo contracto com diversos amigos para o plantio de canna para me vender, pagando eu 10$000 (dez mil réis) o carro de 100 arrobas cortada para mim receber no canavial. – É este um excellente negócio para quem quer ganhar dinheiro, e, portanto se Vmce. quizer poderá aproveitar a opportunidade. Como camarada, não lhe quero porque sua dívida é muito grande e nunca poderá pagar-me.
Esperando que Vmce. não se negará a dar uma chegada já em nossa caza, assigno como
Seu Amº. Obrº.
Eduardo de Carvalho”.
*A Carta foi transcrita no formato original da época.
Depois de receber essa carta, o trabalhador Eduardo Capistrano foi orientado a jamais ir até a casa do Major Eduardo de Carvalho, pois seria uma armadilha para prendê-lo e o obrigá-lo a trabalhar até pagar sua dívida, coisa que o próprio Major disse que seria impossível do trabalhador conseguir fazer.
Um dos jornais da época, A CRUZ, relatou essa história e denunciou o fato às autoridades do estado. O certo é que Eduardo Capistrano nunca compareceu na usina do Major e desapareceu da capital.
A escravidão no interior dos seringais do Mato Grosso se estendeu até por volta de 1930, quando aconteceu a queda da República Velha e subiu ao poder Getúlio Vargas com o Governo Provisório.